terça-feira, 11 de dezembro de 2012

OS MEDOS QUE DESAFIAM NOSSAS CONTRADIÇÕES.

"Os medos me encaminham, mas não quero permitir que prevaleçam. O medo que tenho de ser só não pode me amordaçar, a ponto de me gerar em contante construção de estados de solidão". (Fábio de Melo)
A solidão que sentimos, muitas vezes, é apenas uma parte da verdade que somos, pois somos muito mais do que sabemos a nosso próprio respeito.
Há em nós um doloroso mistério a ser decifrado, e isto começa a acontecer quando encontramos pessoas que sabem refletir nelas mesmas, a partir do próprio mistério que também são, os nossos silenciosos apelos.
Só as ausências que são sentidas em profundidade, que ferem os tecidos sutis dos sentimentos, é que podem provocar em nós uma busca constante.Elas se apresentam como pontiagudas setas que, ao ferirem novamente o que já foi ferido, apontam para novas possibilidades de deslocamentos em direção ao desconhecido que tanto tememos. E todos nós, de uma forma ou de outra, carregamos nossa própria ausência, a falta de um complemento básico que exige ser conquistado mas que não se situa fora de nós, mas sim dentro das próprias entranhas da alma.
Por isso, evitemos palavras prontas que tem o intuito de anestesiar, simplesmente os medos que nos encaminham de forma corajosa. Recusemos, apenas, os medos que podem nos amordaçar e que, se prevalecerem, geram o abandono de novas perspectivas, induzem à solidão sistemática, impondo o silêncio sobre nossas palavras de esperança.
Devemos saber esperar, pois as esperanças que nutrimos nos socorrem dos vazios medos que sentimos preenchendo-os com novos estados de ser e existir. Sem este tipo de esperança, toda a solidão cava abismos mais profundos em nossa alma.
A vida pode ser reinventada a partir da precariedade que reconhecemos em nós. Nossas fragilidades podem se transformar em vigorosos apelos para a auto-superação se soubermos como administrar os medos permitindo que eles nos encaminhem sem que, entretanto, prevaleçam impondo-nos severos limites.
Devemos aceitar os medos que desafiam nossas contradições e recusarmos aqueles que visam preservá-las. Assim sendo, toda solidão pode ser revestida de significado onde no vazio que experimentamos irão vigorar poderosas forças que nos conduzirão para muito além dos estreitos e confortáveis espaços onde a desistência faz morada certa.
Ser humano é ser assim: ser capaz de vermos a finitude que nos habita ao mesmo tempo em que percebemos os poderes que nos constituem. Nossa grandeza ou nossa decadência, todavia, estará inevitavelmente ligada à qual das condições nos fixarmos mais.

Tarcísio Alcântara
17/11/2012

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