" Tristes ainda seremos por muito tempo, embora de uma nobre tristeza, nós, os que o sol e a lua todos os dias encontram no espelho do silêncio refletidos, neste longo exercício da Alma".
(Cecília Meireles)
Bem-aventurada é a tristeza que favorece a moldura de um outro estilo de vida, onde o novo nasce justamente da precariedade, do estar perplexo diante de questões insolúveis.
Bem-aventurada é a tristeza que se transforma num sorriso de justa aceitação quando percebemos que não há mais o que fazer, o que questionar diante daquilo que não podemos por enquanto compreender adequadamente.
Bem-aventurada é a tristeza que nos assegura uma solidão bem vivida, feita de espaços vazios que vão sendo preenchidos à medida que arrancamos de solos ressequidos, respostas que as duras pedras do caminho nos fornecem quando as deslocamos de seu lugar comum.
"Ainda que falemos a linguagem dos Anjos", se não conhecemos a tristeza em seus fundamentos mais profundos e sagrados, nossa fé somente brilhará em dias por demais claros. Nas sombras noturnas nos perderemos pois somente a nobre tristeza pode nos revelar o que se oculta no silêncio da noite. Sem ela não conheceremos os abismos da vida e as duras opções que temos de tomar diante de certas experiências.
A tristeza, quando nobre, moldura nosso rosto com um suave e firme questionamento. Permite que perguntemos aos espinhos que nos ferem que direção deveremos tomar perante as limitações com que nos deparamos. Ela difere da tristeza mórbida que desenha na face somente sulcos profundos de amargura e desespero.
Bem-aventurada é a tristeza nobre que nos torna mais humanos, que nos despoja do supérfluo, que nos rouba as alegrias anestesiantes e que nos permite ver a dor do mundo lá fora. sem ela, é provável que nos fixemos por um tempo demasiado longo em locais que exigem rápida passagem.
Bem-aventurada é a nobre tristeza que nos obriga a caminhar retirando do barro da estrada a matéria prima que irá confeccionar novos estados emocionaiscom ela é possível sorrir na dor. Cantar quando muitos se calam. Bendizer quando outros maldizem. Esperar quando tantos desistem.
somente uma tristeza bem vivida é capaz de estruturar uma alegria impertubável, ainda que efêmera, pois precisamos experimentar diferentes estados emocionais conforme as exigências educativas que enfrentamos na vida.
Que tristeza nobre, portanto, tenha o seu justo espaço em nossa vida e que se faça presente até o momento em que as respostas que não respondem cedam lugar às perguntas que contém significados, "neste longo exercício de alma".
Tarcisio Alcântara
10/05/2012
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